quinta-feira, 20 de março de 2008

ARTIGO - Marcos Schmidt



OS BRAÇOS DA CRUZ

De que forma Jesus foi pregado na cruz? Da maneira como estamos acostumados a ver na cena tradicional? Pois uma nova imagem está dando o que falar. Num documentário da rede de televisão britânica BBC, Jesus aparece crucificado com os braços levantados para cima. O produtor do desenho tomou como referência o ossuário de uma pessoa crucificada no primeiro século da era cristã, descoberto em Jerusalém. E conclui que provavelmente está é a real imagem de Jesus na cruz.

Puro sensacionalismo para vender notícia. Sem falar que a "revelação" cheira a mofo: a descoberta arqueológica é de 1968. Depois de 40 anos isto é jogado na mídia com intenções bem explícitas. Dias atrás comentava com alguém: Qual será o fato bombástico nesta Páscoa tentando estremecer os fundamentos da fé cristã? E aí está: Jesus crucificado de braços levantados para cima. Isto já virou rotina nesta época - a divulgação de "fatos novos" que contradizem os ensinos básicos do cristianismo. Foi assim com a Tumba de Jesus, o Evangelho segundo Judas, o Código d'Vinci.

No entanto, esta polêmica imagem agride tão somente a tradição. Tanto faz se Jesus morreu na cruz de braços abertos para os lados ou para cima. O que interessa é o fato de que Deus acabou com a conta da nossa dívida, pregando-a na cruz (Colossenses 2.14). Até porque não existe nenhum registro nas Escrituras com descrições pormenorizadas, revelando detalhes das atrocidades contra o Filho de Deus no madeiro. A Bíblia não é sensacionalista. Aliás, se Deus quisesse chamar a atenção para este tipo de coisa, teria enviado o seu Filho nos atuais tempos tecnológicos. Imaginem todos os detalhes do Calvário, captados pelas indiscretas câmeras digitais?

Há quatro anos Mel Gibson justificou a excessiva violência nas imagens do filme A Paixão de Cristo, dizendo que "a idéia era mostrar a dimensão do martírio a que Cristo foi submetido para redimir a humanidade de seus pecados, de modo a provocar a reflexão sobre o sofrimento que cada homem impõe ao outro". Parece que as chocantes imagens do filme já perderam tal dimensão. Assim como a própria violência, banalizada pelas insistentes cenas globais de horror, espalhadas via satélite.

Neste universo de imagens virtuais, o poder permanece na palavra real da cruz. É isto que provoca polêmica. Ou como escreve Paulo: A mensagem da morte de Cristo na cruz é loucura para os que estão se perdendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus (1 Coríntios 1.18). Portanto, nada de novo sobre tais provocações da ciência humana, quando "Deus tem mostrado que a sabedoria deste mundo é loucura (1 Coríntios 1.20).

O que importa mesmo é a posição dos nossos braços, voltados para cima, de onde vem a salvação. Diferente de braços para os lados agarrando coisas que logo viram ossuários. Braços da tradição sobrecarregados pela contradição. Braços contraídos numa indigestão por peixes e chocolates estragados. Braços cruzados que abandonam a cruz de Cristo (Marcos 8.34). Braços que crucificam outra vez o Filho de Deus e zombam publicamente dele (Hebreus 6.6).

Pois, neste Gólgota de expectadores, o sensacionalismo continua atraindo multidões. E mais uma vez as atenções voltam-se para a cruz. Nela, os braços dele continuam abertos, não para cima, nem para os lados, mas em nossa direção.


Marcos Schmidt
marsch@terra.com.br
pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo
Novo Hamburgo, RS
13 de março de 2008

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